10/02/09

SE TU VIESSES...



Se tu viesses ver-me…

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesse toda nos teus braços…

Quando me lembra: esse sabor que tinha,
A tua boca…e o eco dos teus passos…
O teu riso de fonte…os teus abraços…
Os teus beijos…a tua mão na minha…

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca…
Quando os olhos se me cerram de desejo…
E os meus braços se estendem para ti…

(Florbela Espanca)



Amar!

Eu quero amar, amar perdidamente!

Amar só por amar: Aqui... além...

Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente…

Amar! Amar! E não amar ninguém!


Recordar? Esquecer? Indiferente!...

Prender ou desprender? É mal? É bem?

Quem disser que se pode amar alguém

Durante a vida inteira é porque mente!


Há uma Primavera em cada vida:

É preciso cantá-la assim florida,

Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!


E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada

Que seja a minha noite uma alvorada,

Que me saiba perder... pra me encontrar...


(Florbela Espanca, «Charneca em Flor», in «Poesia Completa»)

2 comentários:

mfc disse...

A Florbela tem uma sensibilidade única!

CatarinaLoureiro disse...

Adoro Florbela, ela é fabulosa, e se tu viesses ver-me é um poema muito especial. É um dos muitos dela que sei de cor.