28/02/09

DÁ UM POUCO...


Dá um pouco da tua atenção...
Dá um pouco da tua amizade...
Dá um pouco do teu aconchego...
Dá um pouco do teu calor...
Dá um pouco do teu afecto...
Dá um pouco do teu amor...
Dá um pouco da tua afeição...
Dá um pouco do teu carinho...
Dá um pouco do teu calor...
Dá um pouco da tua luz...
Dá um pouco do teu tempo...
Dá um pouco da tua confiança...
Dá um pouco do teu espaço...
Dá um pouco do teu brilho...
Dá um pouco do teu sorriso...
Dá um pouco da tua alegria...
Dá um pouco da tua lealdade...
Dá um pouco da tua alma...
Dá um pouco do teu pensamento...
Dá um pouco do teu olhar...
Dá um pouco da tua compaixão...
Dá um pouco da tua simpatia...
Dá um pouco da tua gratidão...
Dá um pouco da tua sinceridade...
Dá um pouco da tua magnitude...
Dá um pouco do teu alento...
Dá um pouco da tua ternura...
Dá um pouco da tua tolerância...
Dá um pouco do teu fulgor...
Dá um pouco da tua paciência...
Dá um pouco da tua compreensão...

Dá um pouco de ti...
...Por um mundo mais sensível...
...Por um mundo mais justo...
...Por um mundo MELHOR!

(Flávia Cunha)

ALL OVER AGAIN...

16/02/09

CHOCOLATE QUENTE...


Um grupo de jovens licenciados, todos bem sucedidos, decidiu fazer uma visita a um velho professor, agora reformado.
Durante a visita, a conversa dos jovens alongou-se em lamentos sobre o imenso stress que tinha tomado conta das suas vidas e do seu trabalho.
O professor não fez nenhum comentário e perguntou se eles queriam tomar uma chávena de chocolate quente.
Todos se mostraram interessados e o professor foi para a cozinha.
Voltou minutos depois com uma grande chaleira e uma grande quantidade de chávenas, todas diferentes – de fina porcelana e de rústico barro, de simples vidro e de cristal, umas com aspecto vulgar e outras caríssimas.
Apenas disse aos jovens para se servirem à vontade.
Quando já todos tinham uma chávena de chocolate quente na mão, disse-lhes:
– Reparem como todos procuraram escolher as chávenas mais bonitas e dispendiosas, deixando ficar as mais vulgares e baratas....
Embora seja normal que cada um pretenda para si o melhor, é isso a origem dos vossos problemas e stress.
A chávena por onde estais a beber não acrescenta nada à qualidade do chocolate quente.
Na maioria dos casos é apenas uma chávena mais requintada e algumas nem deixam ver o que estais a beber.
O que vós realmente queríeis era o chocolate quente, não a chávena; mas fostes conscientemente para as chávenas melhores...
Enquanto todos confirmavam, mais ou menos embaraçados, a observação do professor, este continuou:
– Considerai agora o seguinte: a vida é o chocolate quente; o dinheiro e a posição social são as chávenas.
Estas são apenas meios de conter e servir a vida.
A chávena que cada um possui não define nem altera a qualidade da vossa vida.
Por vezes, ao concentrarmo-nos apenas na chávena acabamos por nem apreciar o chocolate quente que Deus nos ofereceu.
As pessoas mais felizes nem sempre têm o melhor de tudo, apenas sabem aproveitar ao máximo tudo o que têm.
Vivei com simplicidade.
Amai generosamente.
Ajudai-vos uns aos outros com empenho.
Falai com gentileza…
… e apreciai o vosso chocolate quente.
(Autor desconhecido)

10/02/09

SE TU VIESSES...



Se tu viesses ver-me…

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesse toda nos teus braços…

Quando me lembra: esse sabor que tinha,
A tua boca…e o eco dos teus passos…
O teu riso de fonte…os teus abraços…
Os teus beijos…a tua mão na minha…

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca…
Quando os olhos se me cerram de desejo…
E os meus braços se estendem para ti…

(Florbela Espanca)



Amar!

Eu quero amar, amar perdidamente!

Amar só por amar: Aqui... além...

Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente…

Amar! Amar! E não amar ninguém!


Recordar? Esquecer? Indiferente!...

Prender ou desprender? É mal? É bem?

Quem disser que se pode amar alguém

Durante a vida inteira é porque mente!


Há uma Primavera em cada vida:

É preciso cantá-la assim florida,

Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!


E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada

Que seja a minha noite uma alvorada,

Que me saiba perder... pra me encontrar...


(Florbela Espanca, «Charneca em Flor», in «Poesia Completa»)

O QUE HÁ EM MIM...

O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos
(Fernando Pessoa)


"Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia, Não há nada mais simples. Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte. Entre uma e outra todos os dias são meus."

Fonte: Fernando Pessoa/Alberto Caeiro; Poemas Inconjuntos; Escrito entre 1913-15; Publicado em Atena nº 5, Fevereiro de 1925