Alentejo dos loiros trigais
Onde os ceifeiros cantam madrigais.
Alentejo, planura sem fim
Que, cabes todo, dentro de mim!
Mais do que a neve da serra,
Mais do que a espuma do mar,
O Alentejo é brancura
Á luz branca do luar.
Solidão do Alentejo!
Fontes, cruzeiros e alminhas
Cantam ralos e cigarras
No silêncio das tardinhas.
O pastor do Alentejo
Encostado ao seu cajado
Vai namorando a campina
Que é a mesa do seu gado.
Olhos vagos e profundos
Num sonho, distante, imersos,
Há neles mais poesia
Do que num livro de versos!
Alentejo das debulhas,
Das ceifeiras e dos montados,
Dos ranchos de mondadeiras
Fieis aos seus namorados.
E do cavador tisnado
P'lo sol quente do meio-dia,
Rude, franco e altivo,
Fiel á sua Maria.
Alentejo dos sobreiros,
Azinheiras e olivais
Alentejo, minha terra,
Eu quero-te sempre, mais!
Alentejo das searas
Em Abril a ondular!
E das chaminés, branquinhas
Ao sol-posto a fumegar.
Dos tarrinhos de cortiça,
Das samarras e safões,
Dos pastores e dos morais,
Dos manajeiros e dos ganhões,
Símbolos deste Alentejo
Que eu, p'ra bem poder cantar,
Hei-de beijar a planície
De joelhos, a rezar.
Autor: Maria Águeda Lopes Roseiro
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